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Trata-se de um blog de confissões, de desabafos,anedotas,poemas e de brincadeira.

quinta-feira, abril 24, 2008

Poesia de Andaime 

Capítulo 6









Os religiosos








A Igreja, pela natureza universal da sua mensagem, não se identifica objectivamente com nenhuma
cultura, pois pode exprimir-se em todas elas, sendo capaz de as influenciar, intervindo no fenómeno da
mutação cultural.
Não será de estranhar que, num país de fortes tradições religiosas como Portugal, também as
expressões clericais e sacerdotais se misturem no seio da linguagem do amor e do romance. Como disse
um dia o calceteiro João da Silva Ramalho, ao olhar aquela que viria mais tarde a ser sua esposa – AiJesus, que és tão boa.











71. Diz-me lá como te chamas para te pedir ao Menino Jesus.
72. Ó filha, queres ir ao céu? Sobe os andaimes que o resto do caminho é por minha conta.
73. Ó filha, se não acreditas que Deus é feito de carne e osso sobe os andaimes e anda cá tocar-me.
74. Abençoados pais que conceberam esta coisinha linda.
75. Por acaso és católica? É que tens um cu que valha-me Deus.

quinta-feira, abril 17, 2008

Poesia de Andaime 

Capítulo 5







A subtileza do povo









Apesar das vestes rurais de trabalhador da construção civil, das marcas de suor que desenham pequenos
testes de Rochard nas camisolas de alças brancas e amarrotadas e de uma voz arranhada pelos anos, o
homem das obras também tem coração. Muito por causa das pressões da sociedade mas sobretudo de
certos e determinados indivíduos que não permitem ao simples homem das obras seguir as pisadas de
um Camões ou de um Pessoa, os registos desta face da poesia de andaime são escassos e pouco
documentados.
Procurando encontrar um ponto de transição mantem um equilíbrio de forma e estilo entre correntes
poéticas, nos primeiros anos de andaime, muitos são os que não se libertaram completamente das
inibições da poesia trágico-tropical trovadoresca. Declamam versos suaves que por vezes se confundem
com cartas de amor renascentistas.









67. Ia até ao fim do mundo por um dos teus sorrisos, e ainda mais longe pela outra coisa que podes
fazer com a boca.
68. Estou a lutar desesperadamente contra o impulso de fazer de ti a mulher mais feliz do mundo.
69. Sabes onde ficava bem a tua roupa? Toda amarrotada no chão do meu quarto.
70. Só a mim é que não me calha uma destas na rifa.

domingo, abril 13, 2008

Poesia de Andaime 

Capítulo 4







Os ordinários






O palavrão ou aumentativo de palavra é uma gíria de cunho, conhecido em Portugal como calão de baixo
nível. Considerados imorais por muitas religiões, os palavrões são inadequados na norma culta da língua
portuguesa e geralmente usados de forma popular e brejeira. Excepto por licença poética.
Esta secção, não aconselhada a leitores com pacemaker, revela a face mais obscura da poesia de
andaime. Poesias rudes e deliciosamente envenenadas com sarcasmo e desdém. Versos muitas vezes
escritos à hora de almoço, sem a supervisão de um capataz devidamente credenciado e declamados
apenas pelos mais audazes dos homens.






34. Ó filha, fazia-te um pijaminha de cuspo.
35. Quem me dera que fosses um frango para te meter um pau no cu e fazer-te suar.
36. Só queria que fosses um cavalinho de carrossel, para te montar todo o dia por 50 cêntimos.
37. Ó filha, anda cá a cima que até a barraca abana.
38. Contigo filha, era até ao osso.
39. Metia-te-a inteira até que ma mordesses.
40. Posso tocar no teu umbigo da parte de dentro?
41. Ai de ti que eu saiba que esse cuzinho anda a passar fome.
42. Ó filha, enchia-te essa cona toda de massa.
43. Só não tenho pêlos na língua porque tu não queres.
44. Ó filha, anda cá a cima que ele não se vai chupar sozinho.
45. Tens uns olhos tão lindos, tão lindos, que te comia essa cona toda.
46. Caiava-te toda de branco por dentro.
47. Contigo era até encontrar petróleo.
48. Ó linda, sobe aqui à palmeira e anda-me lamber os cocos.
49. Ó faneca, anda cá que o pai unta-te.
50. O teu cu parece uma serra eléctrica, não há pau que lhe resista.
51. És tão quente que até se me grelham os tomates.
52. O meu amor por ti é como a diarreia, não o consigo manter cá dentro.
53. Diz-me quem é a tua ginecologista para eu lhe ir chupar o dedo.
54. Com esse cu, estás convidada a cagar na minha casa.
55. Contigo até me tornava mineiro, só para te abrir os buracos todos.
56. Podia ficar um mês a cagar trapos mas comia-te com roupa e tudo.
57. Posso pagar-te uma bebida ou preferes em dinheiro?
58. Ainda dizem que a fruta verde não se come.
59. Ó filha, lambia-te o que tu mais gostas.
60. Ó fofa, agarra aqui na corneta.
61. Agarra-me aqui no tarolo, ó princesa.
62. O teu pai deve ser arquitecto, tens um cu que é uma obra.
63. Ó filha, agarra aqui com a mão.
64. Que rico filho. Anda cá cima que eu faço-te outro mas mais bonito.
65. Ó sol, sopra aqui na minha flauta pingante.
66. Ó boneca, era a estrear.

domingo, abril 06, 2008

Poesia de Andaime 

Capítulo 3






A metáfora




A metáfora caracteriza-se singularmente pelo uso de uma palavra ou de uma expressão num sentido
que não é o próprio, baseado numa relação de semelhança. O processo de construção da metáfora
requer uma comparação prévia entre entes diversos retendo o que se considera igual ou semelhante,
para originar um novo significado. Sendo assim, a metáfora é muito mais do que uma figura da língua,
é do pensamento, é cognitiva. Comparação mental ou abreviada, onde prevalece a relação de
semelhança.
Não tão óbvia como a comparação mas não sendo uma coisa diferente, a simples metáfora confunde-se
já com a maneira de falar de cada um. Usada quase sem querer numa tentativa de escapar ao óbvio,
deixa à mulher o papel de adivinhar e interpretar o piropo.




26. Ainda dizem que as flores não andam.
27. Ó filha, com um cuzinho desses deves cagar bombons.
28. Ó filha, levavas aí com o martelo pneumático que fazíamos o túnel do Marquês num instante.
29. Que bela anilha que tu tens, deixa lá enroscar o meu parafuso.
30. Só custa a cabeça que o resto é pescoço.
31. Que rica sardinha para o meu gatinho.
32. Anda cá a cima afagar-me a cobra zarolha.
33. Ó filha, o teu pai devia ter a régua torta para te fazer com curvas assim.

quinta-feira, abril 03, 2008

Poesia de Andaime 

Capítulo 2





O trocadilho




O trocadilho resulta de uma semelhança formal entre dois enunciados sendo um deles, muitas vezes,
elíptico. Semelhança que pode chegar à identidade. Alguns trocadilhos relacionam uma paráfrase com
o seu parafraseado. O trocadilho pode ser intencional ou acidental, como ocorre na cacofonia. Há
trocadilhos com intenção crítica, na qual se deseja transferir para um enunciado o suscitado pelo outro
ou aqueles em que o efeito resulta da relação que medeia os dois enunciados. No exemplo do trocadilho
do Barão de Itararé: “Adeus, Pátria e Família” o cómico resulta da relação de oposição extrema entre a
paráfrase e o parafraseado.
Parte da secular tradição oral portuguesa, com raízes nas antigas cantigas de escárnio e nas sátiras de
Pêro Rodrigues, o trocadilho é um refúgio artístico profícuo na fina arte de bem trovar.




7. És como um helicóptero: gira e boa.
8. Ó fêvera, junta-te aqui à brasa.
9. Ó jóia, anda aqui ao ourives.
10. Ó “morcona”, comia-te o sufixo.
11. Ó filha, aperta aqui que é mais fofo.
12. Ó jeitosa, és mais apertadinha que os rebites de um submarino.
13. Andas na tropa? É que marchavas que era uma maravilha.
14. Se fosses um barco pirata, comia-te o tesouro que tens entre as pernas.
15. Tantas curvas e eu sem travões.
16. Usas cuecas TMN? É que tens um rabinho que é um mimo.
17. A tua mãe só pode ser uma ostra para cuspir uma pérola como tu.
18. Tens um cu que parece uma cebola, é de comer e chorar por mais.
19. Só queria que fosses uma pastilha elástica para te comer o dia todo.
20. Tanta carne boa e eu em jejum.
21. Se o teu cu fosse um banco, fazia uma poupança a taxa fixa.
22. Ó filha, agora já percebo porque é que tenho a talocha nas mãos.
23. Belas pernas, a que horas abrem?
24. A ti não te custava nada e a mim sabia-me tão bem.
25. Até davas uma boa actriz mas és muito melhor atrás.

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